"Para os gregos, a comédia (o ponto de vista dos deuses) era superior à tragédia (o dos simples humanos). Mas, desde a Idade Média, a cultura ocidental sobrevalorizou o trágico e subvalorizou o cómico. É por isso que a ficção actual está tão cheia de ansiedade e sofrimento. É hora de os escritores regressarem à séria tarefa de nos fazer rir.
O que há de errado no romance literário moderno? Porque é que é tão inchado e monótono? Porque é que tão ansioso? Por que raio é que é tão aborrecido?
Vamos recuar um pouco no tempo. Há dois mil e quinhentos anos, na altura de Aristófanes, os gregos acreditavam que a comédia era superior à tragédia. A tragédia era a mera perspectiva humana da vida (adoecemos, morremos), a comédia era a perspectiva dos deuses, lá do alto: um ciclo de sofrimento interminável e repetitivo e a incapacidade humana de lhe escapar. Os deuses gregos, grandes, bêbedos, imperfeitos e cheios de tusa, observavam-nos para se entreterem, como se fôssemos um desenho animado sujo, engraçado, violento e repetitivo. E a melhor comédia grega antiga tentava dar-nos essa perspectiva descontraída e bem-disposta de nós mesmos enquanto seres imperfeitos. Assim, nós tornávamo-nos deuses, rindo das nossas próprias tolices.(...)"
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