Na última revista «Ler», Abel Barros Baptista escreveu:
«o cómico é coisa que (...) vive do aparecimento, súbito e inesperado, característica que partilha com os fantasmas e os sismos». Talvez por isso é que uma piada previsível nos desagrada, porque ela deixa-nos menos distraídos, sofrendo por antecipação com o inevitável desenlace, transformando-nos em animais de planície, os primeiros - diz a sabedoria popular - a pressentir a chegada de um terramoto, vendo assim subtraída a surpresa pelo fenómeno quando ele, de facto, sucede. Conhecer o destino demasiado cedo é, abusando da metáfora zoológica, uma jaula para o riso. E uma boa piada não deve tentar convencer-nos do que quer que seja, nem do profundíssimo absurdo da vida nem, muito menos, do talento desmesurado do autor. Tal como não é preciso acreditar em fantasmas para nos assustarmos com eles. O truque do lençol é que já está um pouco gasto.
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