Thursday, September 17, 2009

A história de Zé Peixe

Que te diz a história de Zé Peixe?



Ele passou a vida dentro d'água, buscando navios a nado. Conheça a incrível história desse velho do mar.

Esta é a história de um peixe chamado José. Há mais de seis décadas ele passa a maior parte do tempo na água. Nada quase diariamente cerca de 10 quilômetros por dia, está habituado a saltar de navios de mais de 40 metros de altura e é capaz de façanhas homéricas no mar mesmo com seus 80 anos. Zé Peixe, como é conhecido em Aracaju, é reverenciado por marinheiros dos sete cantos por sua humildade, bravura e profundo conhecimento das coisas do mar.

E, como toda lenda, tem suas particularidades. Desde que começou a trabalhar no porto de Aracaju, Zé Peixe nunca mais tomou um bom banho de chuveiro. Também quase não bebe água doce.

O que faz de Zé Peixe uma espécie rara é a maneira como trabalha: ele vai buscar o navio a nado, enquanto seus colegas recorrem a um barco de apoio. E, quando tira o navio do porto, em vez de voltar de barco ele salta no mar. Faz assim: enrola a camisa, coloca junto com os documentos e os trocados em um saco plástico e amarra firme no calção; mergulha e volta para casa com braçadas elegantes, ritmadas, sem movimentar as pernas para não atiçar os tubarões.

Zé Peixe, ganhou fama internacional, espalhada por navegantes de fora que lá atracaram. Os gringos me chamam de Joe Fish, diz. Certa vez, um capitão russo de um cargueiro chegou a pedir que o detivessem quando estava para se lançar ao mar achou que ele estava se suicidando.

Zé é peixe miudinho. Tem apenas 1,60 metro de altura e 53 quilos. Mesmo franzino, já realizou muitas grandezas. A maior proeza foi quando socorreu o navio Mercury, que ardia em chamas em alto-mar, vindo das plataformas da Petrobrás e com funcionários a bordo. Zé pegou carona num rebocador, ligeiro chegou ao navio e conduziu a embarcação até um ponto onde todos pudessem saltar e nadar para terra firme. Por causa de sua condição física exemplar, ele conseguiu salvar inúmeras vidas, conta Brabo, o chefe dos práticos, que há 26 anos convive com Peixinho.

Zé nunca saiu da casa onde nasceu, umas das mais antigas de Aracaju. Nem mesmo quando se casou, há mais de 40 anos (está viúvo há 20 e não teve filhos). Ajeitou uma casa para a mulher, mas não arredou o pé de lá sempre estava cuidando de alguém da família, ora a mãe, ora um irmão enfermo. Vou morrer aqui, diz. Mas só quando o capitão lá de cima desejar.

Tem também quem chega para pedir uns trocados. É que Zé costuma distribuir seu salário aos pedintes. Velhos pescadores que não podem mais trabalhar, desempregados e inválidos conhecem de perto sua bondade.

Mesmo aposentado há mais de 20 anos, Zé Peixe continua trabalhando por gosto. Acorda cedo, com o escuro. Não tem hora certa para trabalhar. Depende do fluxo de navios no porto. E das marés. Acostumou seu corpo a comer pouquinho, porque barriga cheia não se dá com o mar. Dá gastura. De manhã, basta um pão com café preto. E, depois, só fruta. Quando passa o dia inteiro no porto, faz jejum. O doutor já confirmou: Zé tem coração de menino. Nunca fumou nem bebeu. Seu vício mesmo é o mar.

Se não está a pé, está com sua bicicleta. Sempre descalço. Só usa sapatos aos domingos, para entrar na missa, ou em ocasiões especiais. Teve uma época que, para não fazer feio, o danado andava com um sapato. Um dia descobri que o sapato não tinha sola, confessa o amigo Zé Galera. Ele é o único que tem autorização para andar maltrapilho no terminal marítimo, sempre de bermuda acima da cintura e pés no chão. Por ser uma raridade, um cidadão totalmentefora do padrão, ele virou uma exceção às regras, conclui Galera, que aprendeu a nadar com ele aos 6 anos e hoje é seu companheiro na praticagem.

Ele é meu herói, diz o deputado Fernando Gabeira. Quando estava exilado na Alemanha, o deputado viu uma reportagem sobre Zé Peixe. A história do bravo nadador chamou sua atenção. Quando retornou ao Brasil, foi conhecer de perto o tal sergipano. É uma figura extraordinária. Tentei fazer um filme sobre a vida dele, mas ele não quis, conta.

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